terça-feira, 30 de junho de 2009

Vou

Vou ver o pôr do sol as vezes que puder
Apanhar todos os aviões e ir, ir, ir

Vou esbanjar todo o meu charme numa mulher

Irritar, sorrir, gritar, amar, sentir
Vou ver o mundo com olhos de criança sempre que puder

Insonia

De vez em quando dá-me pra insonias. Eu bem sei as razões para tal. Horários sempre a trocar, não querer deixar de fazer e ver as coisas, e sobretudo não gostar de adormecer (também não gosto de acordar, daí a minha rabujice nessas alturas).

Não gosto de adormecer porque é tempo perdido da vida. (esta razão é muito secundária face à outra pois há número muito limitado de coisas que podes fazer enquanto os outros dormem e ao mesmo tempo divertir-te a faze-las).

Não gosto de adormecer porque tenho pânico de morrer. Sim, pânico. Não é de agora com estas doenças de merda que tenho, é desde criança.

Não gosto da sensação que posso não vir a acordar. Daí o absolutamente não querer anestesias gerais em operações.

Quem acredita em algo tem sempre uma almofada de confiança, quem como eu em nada acredita a não ser nas pessoas, saber que podes não acordar é terrível. Vezes haviam em criança em que pensava nisso e ia vomitar de tanto medo sentir.

Com o tempo e a idade aprende-se não a dominar os medos, mas a domesticá-los e a ter truques para os esquecer. É o que faço. Mas quando estou mesmo doente pouca coisa resulta, sobretudo no pior que me pode acontecer que são as doenças pulmonares.

Fala-se que morrer no sono é uma maneira pacifica de ir embora, mas bolas, para mim não quero isso. Quero saber o que está a acontecer, quero olhar a coisa nos olhos e espernear, lutar, agarrar com tudo o que tenha e sentir que só vou se for arrastado.

Não quero dormir, não quero morrer. Inevitavelmente terei de fazer as duas. Quanto mais tarde melhor, tanto mais que erva daninha dura mais e a noite me encanta de uma maneira tal que o dia não lhe chega aos calcanhares.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sorrisos



Sinto falta dos meus sorrisos constantes
Têm sido cada vez mais raros
Breves momentos contagiantes
Têm-me saído cada vez mais caros

segunda-feira, 1 de junho de 2009

1 de Junho



"Sou adulto sempre que é preciso para ser criança sempre que posso."

Pedro Duro

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Lágrimas



Compreendo e sinto melhor as coisas logo choro mais e quase sempre gosto.

Ultimamente tenho chorado de angústia, desespero, dor, raiva, quase nunca de alegria ou emoção.

Estou cheio de drogas no corpo todo.

Estes medicamentos que me dão torturam-me, doem-me, ardem, custam-me, violam-me.

Adoro a ciência e medicina pelas inúmeras vezes que me salvaram a vida.

Odeio-as pelo sofrimento que me causam.

Apetece-me chorar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Acreditar



Não acredito em religiões pois não me conseguem explicar porque são todas intrinsecamente iguais, faliveis, corruptas, xenofobas e se deixam ser argumento para genocidios em nome de um poder superior, tendo como santos pessoas banais que por exemplo apenas andaram nas guerras das cruzadas.

Não acredito no metafisico onde tudo te acontece por uma razão e tudo está planeado, pois não me conseguem explicar a razão de crianças de 4 anos terem cancro, ou pessoas boas e com vidas saudáveis morram de repente.

Só acredito nas pessoas, no poder que têm de alterar o ser presente e na ciência.

As religiões e as espiritualidades dão muito conforto às pessoas pois explicam-lhes o futuro e dão-lhes uma bóia a que se agarrarem, mesmo que baseando-se em fundamentos contraditórios. Está provado que as pessoas espirituais e religiosas vivem mais anos pois são menos ansiosas dado esta segurança que sentem relativo a protecção e futuro.

É muito mais dificil não acreditar em nada a não ser no mais falível dos factores, o ser humano.

Curiosamente não troco a incerteza das acções das pessoas e do futuro final por nada.

Acabo sempre por valorizar muito mais o presente.

Bem vistas as coisas só temos realmente "o agora".

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Febres



Por causa de umas febres manhosas nao tive alta hoje.

Por causa de uns movimentos de anca, Elvis the Pelvis incendiava o mundo.

Há um bocadinho em cada homem que desejava ser o Elvis que causava febres às mocitas.

Eu? Tem dias que sou o Elvis...

domingo, 17 de maio de 2009

Presente



Há todo um futuro que nos impele.

Há todo um passado que nos molda.

Um possível fim




Quando fui picado com a injecção de quimioterapia dia 12 de Maio pelas 00h05 apercebi-me que este poderia vir a ser o último acto de quimioterapia da minha vida.

Mesmo que não o seja e haja reincidência (e há bastantes), chega-me uma possibilidade. Tal como me chegou uma possibilidade de sobrevivência. Tal como me chega uma possibilidade de felicidade.

Resolvi "imortalizar" o momento e captar as enfermeiras que tanto me ajudam.

A vida é isto, uma míriade de possibilidades.

Temos de ter coragem para as reconhecer e agarrar.

Temos de arriscar e acreditar.

Tudo o que precisamos é de uma possibilidade, por muito impossível que a mesma possa ser.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Joelhos Esfolados

Momento Rocky: boxeaur treina intensamente e no fim da subida de uma longa escadaria em Filadélfia levanta os braços e grita rejubilando não com uma vitória no ringue mas com a conquista de si próprio no treino.

Ontem joguei à bola de novo passado quase 1 ano.

Resultado:
- 2 joelhos esfolados
- quedas, trapalhices e bolas perdidas
- cansaço (menor que o esperado)
- 1 assistência para golo
- 1 GOLO MARCADO
- 1 sorriso lacrimejado

Mais que um golo, mais que uma vitória pessoal, mais que um regresso, mais que muita coisa na vida. Não celebramos os nossos golos tão bem como deveriamos.

Há rituais e rotinas que fazem muito bem à vida.

Quero mais momentos destes na minha vida.

O sabor deste estará para sempre marcado em mim.

Momento Pedro: ao marcar o golo dá um berro superior a todos os ouvidos nessa noite no campo, levanta os braços e olha para baixo e para dentro. O resto do jogo já não lhe interessaria.

domingo, 29 de março de 2009

Isto custa e é difícil...

... para mim
... para quem gosta de mim
... para quem cuida de mim
... para quem trata de mim
... para quem está de fora

Exactamente por esta ordem.

Seria tudo bem mais fácil se o pudesse fazer sozinho.

Não o é possível.

Raios partam a sensação de impotência que isto gera.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Tempo

Como o tempo vale mais que o vil metal só o tenho para:

- pessoas que goste ou venha a gostar
- ser sincero directo e honesto (como os velhos e as crianças)
- acreditar, aproveitar, aprender
- ver o lado da solução e desprezar o problema
- achar a oportunidade na dificuldade
- um fechar de olhos
- um pastel de nata
- as pequenas coisas da vida
- ser feliz (a saúde não é tão importante como a fazem)

A vida só é curta quando é boa...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma noite destas

Uma noite destas vou ter uma noite destas da música e ai de quem se puser no caminho...

Sinto-a a vir e pode não ser o fisicamente mais indicado, é seguramente o psicologicamente mais necessário.

Já sinto o formigueiro, a antecipação, o brilho nos olhos, o barulho das luzes...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Moça Nova

Tenho uma teoria.

Ah e tal os brasileiros criam musicas muito boas e estilos diferentes como a Bossanova. Incorrecto!!!!

Eles esforçam-se é para sacar gajas (espertos....).

Se virmos bem eles querem é uma Moça Nova, mas como ficava mal dizer assim tão frontalmente (anos 50) e como afinal eram poetas pensaram:

"Vamos lá a criar um estilo que rime com Moça Nova, mas não queira dizer nada. Ei, meu chapa, que tal Bossanova? Assim nós sabemos o que queremos e o resto do mundo fica maravilhado com um estilo novo. É isso aí!!!!"

Assim sendo, e como grande poster do estilo "Moça Nova / Bossanova" aqui temos o Garota de Ipanema.

A letra (e temos legendas) não engana. Eles querem é gaijas, e boas ainda por cima.

Que inveja do descaramento e da categoria do disfarce destes brasileiros....


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Bomba Relógio

Temos um relógio interno
Contador dos nossos minutos sem pudor

Um dia ameaça parar
Conseguimos evitar

Até ao dia que finalmente...

E se o relógio fosse uma bomba
Em que não soubessemos o comprimento do pavio
Apenas sabemos que já o acenderam

Sopramos sopramos sem parar
Sem conseguir apagar

Olhamo-nos no espelho, cansados
Com medo, irados

O que fazer? Merda, o que fazer?

Continuar a soprar?
Abrir a porta sentir a vida e aceitar?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Cura

Quando a cura é um processo de tortura
Quando o tratamento causa sofrimento
Quando os dias raramente nos dão alegrias

O que fazer senão sofrer?
Aguentar até passar
Deixar queimar até curar

Dia de chuva



Adoro um bom dia de chuva
Ficar na cama mais tempo a ouvi-la cair nos estores
Senti-la bater nos vidros enquanto vejo um filme enroscado no sofá
Ligar a lareira sem ser preciso pois está menos frio
Namorar nos recantos onde não chove
Chapinhar nas poças
Chegar a casa ensopado e trocar de roupa
Gosto de chuva de verão e de inverno
Saudades das molhas que apanhava no futebol (a ver no estádio ou a jogar)
A chuva limpa, suja, renova
Sendo lágrimas das nunvens, a chuva é sempre uma catarse que quando acaba nos faz sentir melhor
Gosto do seu chorar...